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mar

80% das doenças relacionadas ao trabalho são representados pela LER/DORT

Todas as atividades econômicas, após a metade do século, foram literalmente atingidas pela LER/DORT. Diante da evolução tecnológica, o que marca é a acelerada automação dos processos de produção, não mais mecânica, mas eletroeletrônica, simbolizada agora por computadores. E foi assim que a LER deixou de ser uma doença restrita a um número pequeno de trabalhadores para se tornar um problema que assola inúmeras outras atividades, de modo a evidenciar um quadro de gravidade nacional dentro das relações laborais.

Por Debora Raymundo Melecchi*

Cerca de 80 a 90% dos casos de doenças relacionadas ao trabalho, conhecidos nos últimos 10 anos, são representados pela LER/DORT, o que evidencia a gravidade e a abrangência do problema. Segundo dados do INSS, as lesões por esforços repetitivos são a segunda causa de afastamento do trabalho no Brasil. Acometem homens e mulheres em idade produtiva e estão na maioria das vezes relacionados à organização do trabalho, como posturas inadequadas, movimentos repetitivos e fatores psicológicos. Os profissionais mais suscetíveis a desenvolver o DORT são: bancários, metalúrgicos, digitadores, operadores de linha de montagem, operadores de telemarketing, jornalistas e secretárias.

Dados de 2011 do Ministério da Previdência Social, informaram que o custo para o Brasil relacionado a acidentes e doenças de trabalho somado ao pagamento das aposentadorias e outras despesas, é maior que R$40 bilhões/ano.

Como se trata de um agravo silencioso em que os sintomas levam um tempo para surgirem, os profissionais acometidos ao procurar atendimento médico levam algum tempo para serem diagnosticados. Geralmente apresentam um quadro avançado porque os sintomas iniciais são quadros leves de dores, camuflando assim esse quadro com o uso de medicamentos.

A verdade é que a Saúde do Trabalhador carrega em si as contradições ocasionadas na relação capital e trabalho. As diferentes formas de precarização do trabalho e do crescimento dos acidentes e adoecimentos resultantes do trabalho e as necessidades, daí resultantes, são marcas históricas que sinalizam para a sociedade o lugar desse fenômeno, como produto das relações sociais da sociedade capitalista.

No caso específico da LER/DORT se dá devido à grande evolução do trabalho humano e às mudanças nas relações, ritmo e ambientes de trabalho. Como a introdução de processos automatizados, aumento do ritmo de trabalho, alta pressão para a execução das tarefas e atingimento de metas.

Mas é de conhecimento de todos que os movimentos sindicais e os movimentos sociais possuem a capacidade de transformar, de lutar por ideais e mudar realidades. Esse potencial de transformação é a base de todo processo de mobilização. A iniciativa de promover a participação das pessoas significa colocar nas mãos de muitos o poder de decidir o seu futuro que remete, essencialmente, para o desenvolvimento soberano e sustentável do país.

Precisamos compreender que somente com mobilização é que contribuiremos para a consolidar uma participação cidadã que age com um objetivo comum buscando resultados decididos e desejado por todos.

Nesta data de luta contra LER/DORT precisamos protestar contra os abusos das empresas e exigir melhores condições de trabalho. Precisamos reforçar as lutas contra a precarização do trabalho (contra o PL4330). Nos indignarmos diante da degradação e da precariedade das condições de trabalho e do adoecimento.

ENTENDA A DATA

Aproximadamente no fim da década de 70, o Brasil tomou ciência da doença, nesta época os computadores cada vez mais se faziam presentes nas empresas. A medida em que a automação chegava às atividades financeiras, surgiram os primeiros de casos de LER entre bancários, depois, fora à vez dos trabalhadores industriais, notadamente, na linha de montagem, quando então até os caixas de supermercados foram vitimados.

As lesões por esforços repetitivos foram primeiramente descritas como tenossitose ocupacional. Foram apresentados no XII Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho, em 1973, casos de tenossitose em lavadeiras, limpadoras, engomadeiras, recomendando-se que fossem observadas pausas de trabalho daqueles que operavam intensamente com as mãos.

A partir de 1985 surgem publicações e debates sobre a associação entre tenossitose e o trabalho de digitação, que resultam na portaria 4.062, em 06 de agosto de 1987, pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, reconhecendo a tenossitose como doença do trabalho, fase em que as comunicações de acidentes de trabalho (CAT’s) concentravam-se especificamente na função de digitadores.

Durante a década de noventa, a situação se torna tão alarmante que a LER, junto à surdez passa a ser uma das doenças do trabalho mais notificadas no INSS.

Assim, no Brasil, a 1ª referência oficial a LER foi feita pela Previdência Social, com a terminologia tenossinovite do digitador, através da Portaria nº. 4062, 06/08/87.

Em 1992, a Secretaria de Estado de São Paulo, publicou a Resolução SS 197/92, já introduzindo, oficialmente, a terminologia lesões por esforços repetitivos (LER). No mesmo ano, a Secretaria de Estado do Trabalho e Ação Social e Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais publicaram a Resolução 245/92, baseada na Resolução SS 197/92, de São Paulo.

Em 1993, o INSS publicou sua nota técnica para avaliação de incapacidade para LER, baseada nas resoluções anteriormente citadas.

Em 1998, na revisão de sua Norma Técnica, a Previdência Social substituiu a sigla LER por DORT, sigla de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho, por ser considerada uma síndrome complexa e englobar várias doenças, como tendinite, bursite e síndrome do ombro doloroso. As LER/DORT são responsáveis por lesões nos tendões, músculos, articulações e nervos.

Desde 2000, o último dia do mês de fevereiro é lembrado em vários países como o Dia Internacional de Conscientização sobre as LER/DORT. Trata-se de um marco de extrema relevância. Foi a primeira vez na história que uma doença profissional (LER) passou a ser considerada como questão de saúde pública mundial.

*Presidente do Sindicato dos Farmacêuticos do Rio Grande do Sul – Sindifars
Diretora de Organização Sindical da Fenafar

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