Igualdade racial: “Trabalhar a diferença para construir a igualdade”, diz Mônica Custódio
No Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro), as negras e os negros brasileiros manifestaram-se do Oiapoque ao Chuí contra o racismo. “O ponto alto das manifestações deste ano foi a Marcha das Mulheres Negras em Brasília”, diz Mônica Custódio, secretária de Políticas de Igualdade Racial da CTB.
A Marcha ocorreu na quarta-feira (18). “Como estamos para iniciar mais uma campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher (começa na quarta, 25 e termina no dia 10 de dezembro), é bom enfatizarmos que as mulheres negras saem às ruas para conquistar visibilidade e mostrar que merecem respeito e uma vida digna”, afirma Mônica.
Para ela, “foi uma grande vitória a realização dessa primeira marcha nacional, onde as mulheres negras reivindicam autonomia econômica e mais visibilidade na política para conquistar seus direitos de uma vida sem violência e sem discriminação”.
Diz ela, no entanto, que esse é “apenas o começo”. Ela enumera uma série de reivindicações do movimento negro, reforçando a pauta das mulheres negras que “são as que têm os piores salários, residem mais longe do local de trabalho e são as mais maltratadas pelo mercado de trabalho”.
A questão da posse da terra aos remanescentes quilombolas faz parte da pauta do movimento negro. “Os quilombolas precisam do título de suas terras para legalizarem sua situação e poderem produzir e viver com tranquilidade”, defende Mônica.
A sindicalista carioca cita a Carta da Marcha 2015, que apresenta as reivindicações das mulheres negras e foi entregue à presidenta Dilma Rousseff durante a marcha em Brasília.
“A sabedoria milenar que herdamos de nossas ancestrais se traduz na concepção do Bem Viver, que funda e constituí as novas concepções de gestão do coletivo e do individual; da natureza, política e da cultura, que estabelecem sentido e valor à nossa existência, calcados na utópica de viver e construir o mundo de todas(os) e para todas(os)”, diz trecho da Carta (leia a íntegra aqui).
“Lutar por igualdade salarial e pelo fim da discriminação no mercado de trabalho constitui-se numa das bandeiras essências das negras brasileiras”, argumenta Mônica. Outro ponto forte do movimento negro atual é a campanha contra a intolerância religiosa.
Ela ressalta também que as mulheres negras são as que mais sofrem com o “verdadeiro genocídio contra os jovens negros, moradores das periferias deste país”. Por isso, diz, “defender a cultura da paz contra a cultura do estupro e da violência contra as mulheres devem pautar nossas lutas rumo a uma nova sociedade, baseada no respeito à dignidade humana”.
Mônica defende mais mulheres nas instâncias de poder, principalmente as negras, que são as mais prejudicadas em todo o processo “para construirmos um país mais justo e igual, precisamos avançar nas cotas em universidades e no serviço público”.
Ela argumenta ainda ser necessário que o movimento negro e feminista se organizem ainda melhor para a construção de políticas públicas que possibilitem reparar a “dívida histórica que o país tem para com as negras e negros”. Para ela, “é fundamental trabalhar a diferença para construir a igualdade”, diz.