Pagar pelo SUS é distorção no sistema, diz ex-ministro da Saúde
O ex-ministro da saúde, Alexandre Padilha, criticou nesta terça-feira (11) a proposta da Agenda Brasil de cobrança de alguns procedimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) dependendo da faixa de renda do paciente. “Qualquer proposta que pense o financiamento do SUS, cobrando procedimentos realizados vai provocar uma profunda distorção. Se até no financiamento público você remunerar pelo procedimento já gera distorção na organização do serviço de saúde, imagine se você coloca o financiamento privado?”, pontuou.
A declaração foi feita durante debate “Direito à saúde X Ofensiva conservadora”, que marcou o lançamento do portal Saúde Popular, na capital paulista. Para Padilha, que é o atual secretário de Relações Governamentais da Prefeitura de São Paulo, tal proposta vai no desencontro de eixos estruturantes do SUS e de conquistas históricas.
A Agenda Brasil, apresentada nesta terça-feira no plenário do Senado, pelo presidente da Casa Renan Calheiros, prevê, entre outras medidas, a votação de 27 proposições legislativas. O objetivo delas seria aumentar a confiança dos investidores na economia do país.
Mais Médicos
Considerado um marco na história do SUS e importante instrumento para seu avanço, o programa Mais Médicos, que completou dois anos na semana passada, também foi destaque no debate.
Para o médico de família e integrante da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, Thiago Henrique Silva, o programa conseguiu expor interesses de classe presentes na sociedade e introduzir debates que antes não eram discutidos e que precisam de solução. “Ainda impera um corporativismo na área da saúde que a gente tem que superar”, disse.
Silva também comentou o avanço das pautas conservadoras no Congresso e que representam retrocesso, além de criticar a política econômica do governo federal. A ofensiva conservadora não é contra o PT. É contra o marco civilizatório e democrático construído nos anos 1980″, afirmou Thiago Henrique, da Rede de Médicos e Médicas Populares. ”Renan Calheiros [presidente do Senado] e Joaquim Levy [ministro da Fazenda] sintetizam as forças reacionárias do nosso país”. “A ofensiva conservadora não é contra o PT. É contra o marco civilizatório e democrático construído nos anos 1980”, acrescentou.
A jornalista e autora do Blog Socialista Morena, Cynara Menezes ressaltou a importância da redes sociais no debate sobre a saúde. Ela acredita que o Mais Médicos conseguiu pautar assuntos antes ignorados na sociedade. “O que me surpreende nesta história toda é que até o Mais Médicos aparecer existia algumas questões que o povo brasileiro desconhecia. Por exemplo, o fato dos distritos indígenas não possuírem um médico”, disse.
Desde sua criação, o Mais Médicos tem sido alvo de duras críticas de setores conservadores da sociedade, em especial a entidade médicas. Entre as reações mais recentes está os recentes ataques feitos à estudante de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Ana Luiza Lima. Ela foi alvo de xingamentos e comentários preconceituosos na sua rede social, após participar da cerimônia de comemoração de dois anos do programa e defender o projeto que possibilitou seu ingresso na universidade.
“Quero dizer para a Ana Luiza, que ela se sinta apoiada por nós. Assim como ela, outros profissionais, quando assumem compromissos muito claros com o direito à saúde e a população e no dia a dia de um certo perfil e se aproximar das comunidades, quando relatam e reforçam o compromisso do SUS, também são vítimas de atitudes como essa”, disse Padilha. Em nota, a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares se solidarizou a Ana Luiza.
Fonte: Saúde Popular