O Conselho Nacional de Saúde (CNS) cobrou celeridade na resposta contra os avanços da MonkeyPox no Brasil. Definição de protocolos de atendimento, descentralização da capacidade de diagnósticos, vacinação, campanha de mídia educativa e acessível, além da necessidade de que o Brasil faça a declaração de emergência, estiveram entre os principais apontamentos apresentados ao secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, durante a 333ª Reunião Ordinária do CNS, realizada na quarta (17/08).
O Brasil é o quarto país do mundo com o maior número de casos confirmados da doença. São 2.893 registros até o dia 14 de agosto, sendo um óbito, de acordo com dados do Ministério da Saúde. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Distrito Federal estão entre os estados com mais incidência da doença.
Vacinação ainda insuficiente
Segundo Medeiros, até o momento o Brasil adquiriu via Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), 50 mil doses da vacina. Os conselheiros destacaram que esse número é insuficiente, porque não cobre sequer 1% da população brasileira.
“Isso nem acolhe nossos trabalhadores da saúde, que estão na ponta e precisam estar protegidos para atender e salvar vidas”, declarou Débora Melecchi, conselheira nacional de saúde e coordenadora da Comissão Intersetorial de Ciência, Tecnologia e Assistência Farmacêutica (Cictaf) do CNS.
Ela ainda lembrou que o fato de haver apenas um produtor da vacina no mundo, localizado na Dinamarca, tem provocado grandes desigualdades e um processo de mercantilização extremamente elevado, já que os EUA já abarcam a maior parte da compra das vacinas.
Plano de emergência, com protocolos claros
Em sua apresentação “Monkeypox: o que estamos esperando para agir?”, Vivian Gonçalves, representante da Comissão de Epidemiologia da Abrasco, defendeu a necessidade de se pensar um plano de formação para emergências em saúde perene e longitudinal, caso contrário todas as vezes o país tende a passar pelas mesmas dificuldades para enfrentar a situação.
“Isso tem que estar dentro do nosso sistema de saúde, mas também do nosso sistema educacional, de uma maneira que possamos capacitar os profissionais de saúde para lidar com situações semelhantes à esta, mas de forma longitudinal e não só sob demanda. É preciso uma mudança de pensamento no país”, completou.
Além da capacitação de profissionais da saúde, Vivian Gonçalves destacou os esforços necessários para lidar com os avanços da doença como a definição de protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas na rede de atenção à saúde; implementação de um sistema de informação unificado para registro dos casos confirmados; estabelecimento de dispositivos de acompanhamento das evidências científicas e campanha de conscientização junto à população.
Campanhas de comunicação e combate aos estigmas
O CNS também defendeu a urgência na promoção, por parte do Governo Federal, de divulgação de campanhas de comunicação junto à população informando sobre os riscos à saúde e medidas preventivas à doença, com informações claras para combater estigmas, como o de que só homossexuais contraem a doença, já e não há nenhuma relação nesse sentido. A transmissão da doença ocorre no contato pele a pele e qualquer pessoa pode se contaminar com a doença independentemente de gênero ou orientação sexual.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, o perfil dos 2.893 casos confirmados no Brasil indica que 64% são homens, 75,6% não informam orientação sexual, 18,5% se declaram homossexuais e 50,7% informam que mantêm relações sexuais com homens.
Marta de Almeida, conselheira nacional de saúde pela Comissão de Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde (ANEPS), ressaltou que é preciso haver equidade e tratamento humanizado, campanhas de qualidade para que cheguem à população e combatam fakenews e o preconceito. “É necessário a atenção básica, vigilância à saúde e a escuta qualificada. O acesso à informação é importante para combater preconceitos e desinformação”, completou.
Notificação sobre pessoas com deficiência
Atendendo à reivindicação do CNS, o secretário de Vigilância em Saúde, se comprometeu em incluir no formulário de notificação da Monkeypox a pergunta sobre se a pessoa tem deficiência e qual tipo. Beto Pereira, presidente dos Cegos do Brasil e membro do CNS, ressaltou que como as pessoas com deficiência usam o toque para se comunicar e serem assistidas, justamente uma das formas de contágio da Monkeypox, seria de extrema relevância conhecermos a estatística desta população.
“Trocamos mais contato de pele com outras pessoas, até porque somos guiados por outras pessoas, ao receber um cuidado, e seria fundamental ter esta radiografia. Na Covid-19 isso não aconteceu. Uma falha no processo”, salientou. Beto Pereira reiterou ainda que toda campanha de conscientização tem de contemplar com áudio descrição, libras, legendas, os 23,9% de brasileiros com algum tipo de deficiência.
O presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Fernando Pigatto, enfatizou a relevância do papel do CNS em dialogar, subsidiar, contribuir e cobrar ações efetivas de combate à doença e defendeu que o tema Monkeypox se torne um debate permanente no CNS. Ele conclamou que sejam atendidas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e colocou o Conselho à disposição para participar do Centro de Operações de Emergências (COE), instalado pelo Governo Federal.
Pigatto, reforçou as vozes dos conselheiros para que os erros cometidos com a pandemia da Covid-19 sejam evitados. “Devemos aprender com erros cometidos para que não se repitam e possamos preservar vidas”.
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Ascom CNS