"O farmacêutico não pode ser visto como um custo empresarial, mas como uma figura estratégica para o estabelecimento de saúde, status que defendemos para as farmácias", disse a presidente do SindFar/SC, Fernanda Mazzini (Nanda), em seu discurso durante a solenidade comemorativa pelo Dia Internacional do Farmacêutico no dia 23 de setembro. A presidente convocou todas as organizações farmacêuticas presentes no encontro a enganjarem-se na luta por melhores condições de trabalho para a categoria.
O evento foi promovido pelo Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina e marcou também a entrega da Comenda de Mérito Farmacêutico e do Prêmio "Experiências Exitosas do SUS". Veja imagens da solenidade no álbum da fanpage.
Abaixo, a íntegra do discurso proferido pela presidente.
Colegas
É sempre um privilégio confraternizar com colegas que há anos, como nós do SindFar, dedicam-se a lutar pelo avanço da farmácia e da profissão farmacêutica. Por mais festivos e comemorativos que sejam, nossos encontros sempre são marcados pelos intensos debates, afinal, nossas lutas são tão constantes quanto árduas.
A maioria de vocês sabe o tanto de dedicação, tempo e engajamento que foi necessário para alcançarmos vitórias mínimas, mas de grande importância, para a categoria. Levamos vinte anos para transformar um projeto de lei que descartava o profissional farmacêutico em uma política que o torna central nas farmácias. Muitos outros anos foram necessários para convencer sobre o seu papel fundamental nos hospitais, nos centros de saúde do SUS, nos laboratórios, nas farmácias magistrais. Enfim, cada uma das mais de 70 áreas de atuação tem por trás muita luta das organizações farmacêuticas.
Muitas vezes, é exaustivo protagonizar e cumprir a agenda de lutas da categoria. Mas nós que estamos aqui somos privilegiados. Por que é ainda mais difícil para quem faz 44 horas de jornada semanal, sem ter um único final de semana de folga consecutiva e ser remunerado pelo piso salarial, como é a situação da grande maioria dos farmacêuticos do Estado.
Cabe a nós, que estamos aqui, eleger as pautas da luta farmacêutica. É uma responsabilidade extra a de atender aos anseios mais latentes dos colegas. E diante de tantas demandas, acreditamos que as principais derivam do momento político e econômico, em que a nova ofensiva neoliberal assombra a classe trabalhadora com tantos retrocessos.
Pergunto:
Como vamos fazer a luta das 30 horas – recomendadas pela Organização Mundial do Trabalho – em um contexto em que as forças políticas que influenciam o governo defendem 60 horas? Como será o futuro do trabalhador farmacêutico com a terceirização? Como, quem trabalha 44 horas semanais, vai aderir à luta pelas causas coletivas necessárias para os avanços? Como garantir serviços públicos de qualidade quando o atual governo pretende congelar os gastos públicos por 20 anos por meio da aprovação da PEC 241 e do PL 257? Como garantir o acesso aos medicamentos e exames para a população no SUS e a contratação de farmacêuticos para a ampliação dos serviços ofertados? Dentro deste contexto, nossas lutas não parecem apenas distantes, mas quase inatingíveis.
Reconhecemos que é preciso rever a lei trabalhista, mas com a intenção de adaptá-la às necessidades da população trabalhadora. A realidade das nossas cidades, as nossas vidas, a nossa rotina é completamente diferente de trinta anos atrás. Mas é preciso avançar e não retroceder em direitos tão caros. Por isso, ontem aderimos às manifestações. Juntamente com sindicatos e centrais de todo o Brasil/ denunciamos e informamos as categorias sobre as reformas do governo que impõem cortes nas áreas sociais e trabalhistas. Entendemos que estes debates são emergenciais e também precisam ser encampados pelas entidades e organizações aqui presentes.
Para o SindFar, a luta por melhores condições de trabalho é transversal a todas as outras, pois, não é possível falar de assistência farmacêutica de qualidade, ou implantação dos serviços farmacêuticos, por exemplo, sem condições de trabalho adequadas. A farmácia não pode ser encarada como um comércio comum. O farmacêutico não pode ser visto como um custo empresarial, mas como uma figura estratégica para o estabelecimento de saúde, status que defendemos para as farmácias.
Todas as entidades que aqui estão lutam lado-a-lado em momentos estratégicos e compreendemos que estas lutas devem nos unir também nesta hora. Precisamos debater juntos as respostas para tantas perguntas. É fundamental discutir e vislumbrar alternativas para os nossos desafios e contradições com toda a categoria.
Esperamos ter maturidade para, unidos, enfrentarmos estes desafios em nome dos trabalhadores e trabalhadoras de todo o Brasil. E é esta responsabilidade que desejamos evocar neste Dia Internacional do Farmacêutico, em nome da valorização da profissão e do trabalho farmacêutico.