Para o sindicalismo, o ano de 2022 entra para a história como o ano de resistência a quatro flagelos simultâneos: o governo Bolsonaro, a pandemia da Covid, a crise econômico-social e a precarização do trabalho. Esta tempestade perfeita contra os trabalhadores e trabalhadoras tem uma causa maior, que é o governo Bolsonaro. Seu mandato de desconstrução nacional atingiu profundamente o trabalho no Brasil.
Era uma tragédia anunciada. O programa de Bolsonaro tinha apenas dois itens ligados ao trabalho: a carteira de trabalho verde-amarela, uma modalidade de trabalho com baixos salários e sem direitos trabalhistas, e o fim da unicidade sindical.
Para escancarar seu verdadeiro objetivo, a primeira medida do governo, publicada logo depois da posse, foi acabar com o Ministério do Trabalho. Para acomodar seus apaniguados políticos, porém, recriou o Ministério totalmente desestruturado.
Outro ponto desastroso do governo foi a criminosa omissão no enfrentamento da pandemia. Atraso na vacinação, negação de medidas preventivas e outras irresponsabilidades custaram a vida de quase 700 mil brasileiros.
Tudo isso ocorreu em meio à continuidade da grave retração econômica do país. Com isso, agravou-se o desemprego, a miséria e, para piorar ainda mais a situação, o Brasil voltou ao dramático mapa da fome, uma chaga que envergonha nosso país.
Por último, mas não menos importante, estes últimos quatro anos foram o período de intensos ataques ao trabalho, consequência das contrarreformas trabalhista, previdenciária e a terceirização irrestrita
As tais reformas ditas modernizadoras pelo conservadorismo neoliberal não geraram os empregos prometidos, retiraram direitos, enfraqueceram os sindicatos e, na prática, legalizaram a precarização do trabalho no Brasil. Para enfrentar este verdadeiro tsunami contra os trabalhadores, o movimento sindical brasileiro avançou bastante em sua unidade, que tem na consolidação do Fórum das Centrais Sindicais o seu exemplo maior.
O Fórum das Centrais Sindicais, com maior organicidade e funcionamento regular, teve importante atuação no amplo movimento de oposição ao governo Bolsonaro. Participou de importantes mobilizações e ajudou a desmascarar o governo. O maior exemplo foi a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada em abril. Organizada por dez centrais sindicais, a Conclat aprovou uma Agenda que é uma verdadeira bússola para orientar a ação sindical na atualidade.
Os pontos centrais da Agenda da Classe Trabalhadora defendem a democracia, a soberania nacional e um projeto de desenvolvimento que coloque no topo a luta pela valorização do trabalho como pilar essencial da retomada do crescimento econômico. Essa Agenda enfatiza o desenvolvimento com protagonismo do estado, a reindustrialização, a geração de empregos de qualidade, política de valorização salarial e resgate dos direitos surrupiados pelas contrarreformas.
Esse documento foi entregue em um representativo ato político, ainda em abril deste ano, para Lula e Alckmin, então pré-candidatos, que se comprometeram a debater com as centrais sindicais a pauta do sindicalismo brasileiro.
Outro ponto de destaque no primeiro semestre foi a realização dos atos de Primeiro de Maio Unitário, organizado pelo Fórum das Centrais. Em todos os Estados, massivas mobilizações ajudaram a divulgar a agenda aprovada na Conclat. Foi um ano de intensas mobilizações. Dentre elas, vale lembrar as ações do movimento Fora Bolsonaro, do Dia das Mulheres, do Grito dos Excluídos, do Dia da Consciência Negra e outras que serviram para acumular forças e isolar o governo. A mãe de todas as batalhas, todavia, foram as eleições gerais de outubro. Armados com a agenda aprovada na Conclat, a campanha unitária dirigida pelas lideranças sindicais foi decisiva para eleger Lula presidente.
Com esse acúmulo de unidade, amplitude e mobilização, o movimento sindical quer, agora, participar com protagonismo da imensa obra de reconstrução nacional. E avançar para políticas de defesa do trabalho e de fortalecimento dos sindicatos. Para tanto, o país precisa revogar as medidas regressivas que precarizam o trabalho, retomar o crescimento, gerar empregos de qualidade, voltar com as políticas de valorização salarial e restabelecer plenamente o papel dos sindicatos.
O ano de 2022 foi muito duro para os trabalhadores. A vitória histórica nas eleições, no entanto, abre perspectivas promissoras para restaurar a democracia e iniciar um novo ciclo político que coloque o trabalho no centro da agenda do país.
*Nivaldo Santana é secretário de Relações Internacionais da Central de Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil (CTB)
Fonte: CTB